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Uma criança entre nós

I – Mc 13,33-37 - A Notícia

II – Mc 1,1-8 - Uma rosa entre os espinhos

 III – Jo 1,6-8.19-28 - Solidariedade, sinal de alegria

 IV – Lc 1,25-38 - Natal da Partilha

Autoras: Cecília Pellegrini e Vera Pastrello

História em 4 capítulos para os domingos do Advento


I CAPÍTULO: A NOTÍCIA

Cenário: uma mesa, duas cadeiras.

Personagens: Apresentadora, Francisca, Neide, Edileine e Paulo.

APRESENTADORA: - A partir de hoje, por quatro domingos seguidos estará no ar a novela mais esperada do ano. Serão quatro capítulos cheios de muito amor, união e esperança. Hoje vocês assistirão ao 1º Capítulo chamado: A notícia!  

[Música para marcar o início da novela.]

APRESENTADORA: - Francisca e Paulo moram num bairro bem longe do centro de uma grande cidade. Eles são bem humildes, não têm muitas coisas, a casa em que moram é bem pequena, com um pedaço de terra no quintal onde fizeram uma horta, plantaram uma laranjeira e um limoeiro. Ah! E tem a Pink, uma cachorra brincalhona e o gato Zézo que vive aprontando [sai de cena.]

[Melodia da música Maria, Maria de Milton Nascimento.]

FRANCISCA [entra em cena, com um regador na mão e um vasinho de flor na outra, senta-se na cadeira e diz para a plantinha]: - Plantinha veja que tristeza, a laranjeira do quintal ainda não floriu, o limoeiro está sem folhas, as verduras da horta estão morrendo. Não sei o que está acontecendo que não chove.  Temos pouca água e não posso gastá-la para regar você e as verduras. Sabe de uma coisa? Você precisa ser forte e aguentar firme porque a chuva vai chegar!

[Entram em cena, Neide (mãe) e Edileine, irmã de Francisca, trazendo uma cachorrinha no colo.]

NEIDE: - Oi, filha, falando sozinha?

EDILEINE: - E essa aí, além de chata está ficando boba.

FRANCISCA: - Oi, mamãe. Oi, Edileine.  Que bom que vocês vieram me visitar. Vocês trouxeram a Pink! Eu estava com tantas saudades... [faz carinho na cachorra.]

EDILEINE: - Acho que ela também estava com saudades. Sabe que ela deu de correr atrás do Zézo. Antes eles eram tão amigos...

NEIDE: - Olha filha, eu trouxe um bolo para você e para seu marido [olha bem, examinando Francisca e diz] - Você está diferente hoje. 

EDILEINE [dá uma volta ao redor de Francisca]: - Você está vendo coisa, mãe, ela está do jeito que sempre foi.

NEIDE: - Não, seu rosto está mais feliz!  Pelo jeito você tem alguma notícia boa para me dar.

FRANCISCA: - E que notícia, mamãe. Você me conhece mesmo: estou esperando um filho!

NEIDE: - Que maravilha! Você vai ser mãe. Parabéns!

EDILEINE: - Você está grávida?  Ué, mas cadê a barrigona? 

FRANCISCA: - Calma Edileine, o médico do posto me disse que eu estou com dois meses de gravidez.

NEIDE: - É e a barriga não começou a crescer ainda porque o nenê ainda está começando a se formar.

EDILEINE:  - Poxa, eu vou ser tia [ergue a Pink e fica girando o corpo.] Você vai me deixar carregá-lo? [Fingi que a cachorra é um bebê.]

NEIDE: - Calma Edileine, ainda falta muito tempo. 

EDILEINE: - E o Paulo ficou contente?

FRANCISCA: - Ele ainda não sabe. Irei contar quando ele chegar do trabalho.

NEIDE: - Um filho é uma benção de Deus. Ele ficará muito feliz.

FRANCISCA: - Eu sei, mas ele anda tão cansado e aborrecido com tanto serviço. A senhora acredita que agora, além de trabalhar durante o dia, às vezes ele tem que trabalhar à noite também?

EDILEINE: - Mas isso é um abuso do patrão. Por que ele não reclama?

FRANCISCA: - Reclamar, como? Quem se queixa é mandado embora e nós temos tantas despesas: aluguel, água, luz, comida. 

NEIDE: - É filha, eu sei como é isso. Seu pai morreu tentando conseguir uma vida melhor e a cada dia que passa a pensão que recebo vai ficando cada vez menor. Ah! Se não fosse as roupas que eu lavo para as madames, não sei como iria pagar as despesas.

EDILEINE: - Sabia Francisca que eu tô trabalhando de babá para a dona Estela, aquela que deu a Pink para nós.

NEIDE: - A Edileine ficou sem vaga na escola do nosso bairro e tem que andar muito até o outro bairro para ir à escola, por isso ela está trabalhando para pagar o passe escolar.

FRANCISCA: - Que fase difícil.  Mas quem sabe essa criança está chegando para o início de uma vida nova?

NEIDE: - É assim que se fala. Uma criança é sempre sinal de dias melhores. Eu e seu pai éramos muito pobres, mas criamos você e os seus cinco irmãos com muito amor e carinho.

FRANCISCA [abraçando a mãe]: - É mamãe, você e papai são pais maravilhosos. 

NEIDE: - É que Deus sempre fez parte da nossa vida. Ele esteve sempre juntinho de nós. Nos bons e maus momentos. Sempre nos deu força, saúde, união. Somos uma família muito feliz.

FRANCISCA: - Sim mamãe, uma família muito unida e feliz. 

EDILEINE: - Às vezes sai umas brigas quando pegam as minhas coisas, né? Mas com o seu bebê eu não vou brigar, não tá, prometo! [Passa a mão na barriga de Francisca] E pensar que aqui dentro há um ser se formando. 

NEIDE: - Veja Edileine como Deus fez a natureza perfeita. Uma grande modificação está acontecendo no corpo de Francisca, assim como na sua vida e na de Paulo.

EDILEINE: - Na minha também, porque eu vou me preparar para receber esse sobrinho que vem aí.

FRANCISCA: - É você vai ficar para titia heim! [Risos.]

NEIDE: - Bem, está na hora de ir embora porque tenho muita roupa para lavar.

EDILEINE: - E eu tenho que ir para a escola.

NEIDE e EDILENE: - Tchau! [saem de cena.]

PAULO [voz em off]: - Chica, Chica, cheguei!

[... a cena termina com a entrada de Paulo. O casal congela a cena para a fala da Apresentadora.]

APRESENTADORA: - Como Paulo, marido de Francisca receberá a notícia?

O que Edileine fará para esperar o sobrinho?  Não percam, senhoras e senhores no próximo domingo o 2º Capítulo da novela...

[Enquanto a narradora fala todos os personagens entram em cena]

TODOS: - Uma criança entre nós. 

II CAPÍTULO – UMA ROSA ENTRE OS ESPINHOS

Cenário: uma mesa, duas cadeiras e um vaso sobre a mesa.

Personagens: Apresentadora, Francisca, Paulo, Neide, Edileine, Sonia e uma criança figurante.

[Francisca já está em cena quando a apresentadora fala.]

APRESENTADORA: - Bom dia! Hoje apresentaremos mais um capítulo da novela: Uma criança entre nós. No 1º Capítulo vocês conheceram Francisca, sua mãe Neide, sua irmã Edileine e a cachorrinha Pink. Francisca contou a elas que estava grávida e elas ficaram muito felizes.  A cena parou com a chegada do marido de Francisca. Vamos ver qual será a reação de Paulo? Com vocês... o 2º capítulo chamado: Uma rosa entre os espinhos [sai de cena.]

[Música para marcar o início da novela.]

PAULO [entra]: - Chica, Chica, cheguei!

FRANCISCA: - Oi, meu amor. Tenho uma novidade muito boa para lhe dar.

PAULO: - Ganhamos na loteria?

FRANCISCA [triste]: - Não, não ganhamos na loteria.

PAULO: - Que pena!

FRANCISCA: - Para mim é melhor que ganhar na loteria.

PAULO [alegre]: - Então diga logo.

FRANCISCA: - Eu estou esperando um filhinho.

PAULO [espantado]: - Um, um filho?

FRANCISCA: - Mas, você não está feliz?

PAULO: - Sim, estou, [abraça e a beija], mas nessa pobreza em que vivemos não temos nada para oferecer ao nosso filho.

FRANCISCA: - Como não temos nada, temos um ao outro!

PAULO: - Sim, mas que futuro poderemos dar a essa criança?

FRANCISCA [fala com determinação]: - Um futuro digno. Humilde, mas digno. 

PAULO [meio bravo]: - Um futuro digno? Como, se já faz uma semana que estamos comendo só arroz e feijão.

SONIA [voz da vizinha em off]: - Chica, ô Chica. 

PAULO: - Essa vizinha...Parece que basta a gente começar a conversar que logo chega ela. E quase sempre vem pedir alguma coisa.

SONIA [entra em cena de avental e com a mão dada com uma criança e uma xícara vazia na outra mão da criança]:- Você tem uma xícara de açúcar pra me emprestar?

PAULO: - Mas eu não disse? Acertei na mosca.

SONIA: - Falou comigo, seu Paulo? [Paulo faz gestos negativos] Nossa seu Paulo, o que foi que aconteceu, que você tá branco desse jeito? Alguém morreu? 

FRANCISCA [pegando o açúcar]: - Pelo contrário Sonia, acabei de dar uma notícia de vida. Ele está assim porque acabou de saber que vai ser pai.

SONIA: - Mas que notícia mais arretada, sô! Já tava demorando muito pra vim cria “dóceis” [abraça Francisca e  diz]: - Não liga não Francisca, o Wardema, meu marido,  quando ficou sabendo que eu tava grávida dessa lindeza [mostra a criança] “tamém” ficou branco que nem cera, mas  pai coruja como ele não tem outro “iguar”. É, Seu Paulo ta cum medo de não dá conta né?   

PAULO [indo bravo em direção a vizinha]: - Ô dona Sonia, a senhora não tem que fazer os seus doces lá na sua casa não?

SONIA: - Ichi se tenho, seu Paulo, vou ter que fazer mais doce pra vender na cantina da escola, porque o 13° do Wardema não vai sair tão já. Eu soube que o seu 13º “tumbem num” saiu, né? Vamos lá né fia [olhando para a filha]. Brigada Chica do açúcar [saem de cena.]

PAULO: - Você ouviu isso Chica, até a fofoqueira da Sonia já sabe que o meu 13° vai demorar pra sair. Como vamos comprar as coisas pro nenê?

FRANCISCA: - É preciso ter fé, meu amor. Você não quer esse filho?

PAULO: - Lógico que eu quero [abraça a esposa], sempre quis ter um filho, mas a cidade está tão violenta, está difícil para dar estudo, ter plano de saúde...

FRANCISCA: - Não desanime. Veja só esta linda rosa, Paulo [pega a flor de dentro do vaso que está sobre a mesa.]  

PAULO: - O que tem ela?

FRANCISCA: - Vejo o nosso bebê como esta rosa que é tão linda, mas está no meio desses espinhos todos.

PAULO: - Está vendo só como você entende o que estou falando? Esta rosa não estaria melhor sem este monte de espinhos à sua volta?

FRANCISCA: - Mas mesmo cercada por espinhos ela é linda e perfumada. Nós vamos estar bem, Paulo. Tenha esperança, Confie na vida e em Deus. 

[Música bem romântica]

[Paulo fica um pouco pensativo e caminha em direção de Francisca que estará de costas para ele, meio triste. Paulo tocará em seus ombros, virando-a para ele e falará com muita calma e emoção.] 

PAULO: - É Francisca, você tem razão. Essa vida dura me deixou muito pessimista [Muda de entonação e fala animado] - Eu vou ser pai e estou muito feliz.  Que tal irmos contar para os meus pais?

FRANCISCA [sorrindo]: - Sua mãe vai adorar ser vovó. 

[Os dois saem de cena abraçados, pelo lado direito.]

APRESENTADORA [entra pelo lado esquerdo]: - Os dias foram passando e a barriga de Francisca crescia e engordava, porque lá dentro seu bebê se sentia protegido.

Mas em compensação aqui fora, as coisas não iam bem não. A firma onde Paulo trabalhava estava quase falindo. Francisca começou a ajudar a vizinha, dona Sonia, com os doces na cantina da escola. Mas ganhava pouco e ainda não tinha o suficiente para comprar nada para o bebe. Foi quando Edileine, a irmã de Francisca, teve uma ideia [sai de cena pelo lado direito.]

NEIDE e EDILEINE [entram pelo lado esquerdo, conversando.]

EDILEINE: - Mãe será que a Chica vai aceitar? 

NEIDE: - Essa ideia sua de dar o seu salário de babá para ela comprar o berço é muito bonito, mas como você fará para ir escola? Esse dinheiro já é quase todo usado para a compra dos passes.

EDILEINE: - Ô mãe, você não vive dizendo que a gente tem que ajudar a quem precisa? Então eu vou fazer a minha parte, mesmo que eu tenha que ir a pé para a escola. 

NEIDE [abraça a Edileine e diz]: - Estou muito orgulhosa de você [congelam a imagem.]

APRESENTADORA [entra]: - Francisca aceitará a ajuda de Edileine? O que acontecerá com Paulo? Como eles farão para comprar o enxoval do bebê? Será que perderão a esperança de dias melhores? Não percam crianças, jovens, senhoras e senhores o 3º capítulo da novela:

[Enquanto a narradora fala todos os personagens entram em cena]

TODOS: - Uma criança entre nós. 

III CAPÍTULO – SOLIDARIEDADE, SINAL DE ALEGRIA!

Cenário1: uma mesa, duas cadeiras e um vaso sobre a mesa = casa Francisca.

Cenário 2: uma cadeira bonita e um tapete no chão = casa dona Estela.

Personagens: Apresentadora, Francisca, Neide, Edileine e dona Estela.

[Sonia e Edileine já estarão em cena imóveis.]

APRESENTADORA: - Bom dia! Hoje apresentaremos mais um capítulo da novela: Uma criança entre nós. No 2º Capítulo Paulo recebeu a notícia de que Francisca estava grávida. No início ficou preocupado por não terem condições financeiras para receberem este filho, mas percebeu que um tinha ao outro e que o amor ajudaria a superar os problemas.  A cena parou quando Edileine chega com sua mãe para dizer que já sabia como ter dinheiro para a compra do berço do bebê.  Com vocês ... o 3º capítulo chamado: Solidariedade, sinal de alegria!

[Música para marcar o início da novela.]

EDILEINE:  - Chica, Chica.

FRANCISCA [entra em cena cabisbaixa, com barriga de 6 meses]: - Oi.

NEIDE: - Ânimo filha, a Edileine está aqui doidinha pra te dizer uma coisa.

EDILEINE: - Tcham, tcham, tcham, tcham... Eu já sei como vamos comprar o berço do bebê.

FRANCISCA: - Como?

EDILEINE: - Com o meu salário de babá. 

FRANCISCA [comovida abraça a irmã]: - Obrigada irmãzinha [começa a chorar e a mãe e a Edileine ficam muito preocupadas.]

NEIDE: - Minha filha, o que foi que aconteceu? Alguma coisa com o bebê?

FRANCISCA: - Não mãe, o bebê está ótimo. Mexe toda hora. Acho que é a maneira que Deus encontrou para dizer que nos ama, pois quando o Paulo sente o bebê mexer é o único momento que ele sorri.

EDILEINE: - Então, diga logo o que aconteceu, que eu já estou nervosa.

FRANCISCA: - O Paulo perdeu o emprego.

NEIDE e EDILEINE: - Minha Nossa Senhora!

FRANCISCA: - Agora, ele sai todo dia a procura de emprego. Mas está tão difícil porque ele não tem o segundo grau completo.

EDILEINE: - Eu não disse que ele devia fazer o supletivo?

NEIDE: - Edileine, agora não adianta ficar falando. Que tal irmos falar com a sua madrinha? O marido dela é chefe naquela metalúrgica. Quem sabe lá esteja precisando de alguém. Vamos?

FRANCISCA [põe a mão na barriga]: - Olha, parece que o nenê entendeu. Vejam como ele está se mexendo.

EDILEINE: - Esse meu sobrinho é parecido com a tia aqui! Já está todo animadinho. É isso aí, fofinho, seu pai vai arrumar emprego logo, logo.

NEIDE: - Mas a Edileine pôs na cabeça que vai ser menino. Eu já disse que pode ser menina também. Vamos Francisca?

FRANCISCA: - Vamos sim, mãe.

EDILEINE: - Eu já vou indo para o trabalho porque não gosto de chegar atrasada na casa da dona Estela.

[As 3 saem de cena. Enquanto a narradora fala, o cenário é mudado. Coloca-se uma cadeira bonita e um tapete no chão.] 

APRESENTADORA: - Francisca e sua mãe não tiveram sorte conversando com sua madrinha, pois a metalúrgica está mal financeiramente e também estão demitindo funcionários, mas em compensação, Edileine parece que atraiu só coisas boas.

[Música para a entrada da personagem Estela. Ela senta-se e começa a mexer no celular.]

EDILEINE: - Com licença, dona Estela.

ESTELA: - Oi Edileine. Olha, a minha filha começou a fazer ballet e agora você terá que trabalhar menos.

EDILEINE [espantada]: - O quê? A senhora não precisa mais dos meus serviços? [nervosa.]

ESTELA [levanta-se]: - Calma, por que o nervoso? Achei que você iria ficar feliz, afinal de contas você sabe o quanto a Priscilinha queria aprender a dançar.

EDILEINE: - É que, agora mais do que nunca, eu preciso muito do dinheiro que eu ganho como babá.

ESTELA: - Mas em momento nenhum eu disse que iria dispensá-la. Nós gostamos muito de você.

EDILEINE [feliz]: - Ufa! ainda bem. 

ESTELA: - Mas, o que você anda fazendo com o seu salário? Sua mãe sabe dos seus gastos, né Edileine?

EDILEINE: - Lógico, dona Estela. É que o marido da Francisca, minha irmã, aquela que está grávida, foi mandado embora. A situação está muito difícil e a senhora acredita que ela está de 6 meses e ainda não tem nenhuma peça de enxoval? Eu vou comprar o berço com o dinheiro que eu ganho aqui.

ESTELA: - Mas e os passes para a escola? E a conta de água e luz que você pagava pra sua mãe?

EDILEINE: - A gente já conversou lá em casa: todo mundo vai economizar mais ainda e eu vou a pé pra escola.

ESTELA: - Ah! Nada disso Edileine, esta cidade está muito perigosa e você me disse que são 22 quarteirões da sua casa até a escola. Eu vou pensar numa solução [fica pensativa.]

EDILEINE: - Não precisa se preocupar, dona Estela, a gente dá um jeito.

ESTELA: - Já sei, como não pensei nisso antes? Vou ligar para as minhas amigas e vou organizar um chá de bebê para a sua irmã. Você, vá até a cozinha comer e eu vou organizar a lista dos presentinhos. 

EDILEINE: - Minha irmã vai ficar muito feliz. Não vejo a hora de contar a novidade! Obrigada, dona Estela, a senhora é uma pessoa muito boa.

ESTELA: - Obrigada, digo eu. O meu círculo de amigas anda muito parado, meio desunido, cada um na sua, sem motivação. Essa criança vai ser o elo de todas nós. E digo mais, vou propor a elas que depois de Francisca, continuemos a ajudar outras moças grávidas. Esse Natal vai ser especial. Ajudar esse bebezinho será como reparar o erro da humanidade em não ter ajudado o menino Jesus, quando ele veio até nós. Sua irmã terá tudo o que precisa, não se preocupe. Agora eu vou providenciar tudo [sai de cena.]

NARRADORA: - Parece que quando o bebê se mexeu na barriga de Francisca é porque ele já sabia que coisas boas iriam acontecer. No próximo capítulo veremos a reação de Francisca e Paulo e a continuação da novela ...

[Enquanto a narradora fala todos os personagens entram em cena]

TODOS: - Uma criança entre nós. 

IV CAPÍTULO – NATAL DA PARTILHA

Cenário: uma mesa, duas cadeiras e uma garrafa térmica sobre a mesa. 

Personagens: Apresentadora, Francisca, Neide, Edileine, Paulo, Débora, Rodrigo, dona Estela e um casal de crianças.

APRESENTADORA: - Hoje apresentaremos o quarto e último capítulo da nossa novela: Uma criança entre nós.  No terceiro capítulo vimos que Paulo estava desnorteado porque havia perdido o emprego, que Dona Estela não deixou Edileine usar o seu salário para comprar o bercinho do nenê. A cena parou com Dona Estela indo se reunir com suas amigas do condomínio onde mora para achar um jeito de ajudar Francisca e seu bebê.

PAULO [entra em cena numa postura de deprimido, com uma ferramenta de jardinagem. Coloca-a no chão perto da mesa, senta-se coloca um pouco de café na caneca finge tomar um gole e fala, como se falasse consigo mesmo]: - Ainda bem que a Francisca não chegou ainda, porque não vou ter jeito de olhar para ela e dizer que hoje eu não consegui ganhar nada [coloca a caneca em cima da mesa, levanta-se, abre os braços e com voz mais exaltada diz]: - Meu Deus, por que será que estou sofrendo tanto? Será que você se esqueceu de nós? Ou... será que você não existe! [senta-se na mesa com a cabeça baixa] - Isso mesmo acho que Deus não existe mesmo [Paulo fica imóvel.]

NARRADORA: - Vejam só pessoal, a que ponto o desespero leva o ser humano. Até a duvidar da existência de Deus, e foi isso que aconteceu com Paulo, afinal de contas a vida que já era difícil, piorou. Ele não se conforma com o sofrimento que eles estão passando, ainda mais agora com um filho a caminho [sai de cena.]

EDILEINE [entra em cena, feliz]: - Paulo cadê a Francisca, eu tenho uma notícia boa para dar a ela.

PAULO [levantando-se]: - Notícia boa... [meio bravo] Notícia boa seria um emprego para mim.

EDILEINE: - Não desanime, você vai conseguir, mas cadê a Francisca?

PAULO: - Ela foi ao posto de saúde fazer o pré-natal, hoje é a consulta de oito meses e não voltou ainda.

EDILEINE [nervosa]: - Nossa Paulo, será que aconteceu alguma coisa com ela e com o bebê?

PAULO: - Não seja boba Edileine, é que hoje é véspera de Natal e você sabe né como o posto de saúde funciona em véspera de feriado.

EDILEINE: - Então quando ela chegar eu volto, ela sai de cena. Paulo senta-se.] 

PAULO [cabisbaixo]: - Esta noite será noite de Natal... [levanta-se rápido e diz com raiva] - Não deveria existir Natal.

NARRADORA: - Paulo está muito triste e revoltado. Ele acha que o Natal é para os que tem grana, que as pessoas pobres não têm direito a essa comemoração. A Francisca pensava em fazer uma comidinha gostosa para a ceia e Paulo sabia que sem dinheiro, isto seria impossível. Mas de repente ele teve uma idéia.

PAULO: - Ah! Já sei... Vou agora mesmo vender esse relógio [tira do pulso] que ganhei do meu pai, assim poderei comprar alguma coisa [Paulo sai de cena apressado -l ado direito.]

FRANCISCA [entra em cena pelo lado esquerdo com sua mãe. Sua barriga é de oito para nove meses.]

NEIDE: - Então Francisca, diga logo, o médico disse se é menino ou menina?

FRANCISCA: - Nossa mãe, que curiosidade é essa, não é você que vivia dizendo que não importa o sexo, que vindo com saúde é o que basta?

NEIDE: - Isso é verdade, mas que eu estou curiosa, isto também é verdade.

FRANCISCA: - Tá bom, eu vou contar.... É menino [fala feliz e as duas se abraçam.]

NEIDE: - Nossa o Paulo vai ficar super orgulhoso.

FRANCISCA: - E por falar em Paulo, estou muito preocupada com ele, imagine que agora deu de sair de manhã e voltar só à noite.

ESTELA [e uma amiga entram com sacolas na mão, bate palma na entrada da casa]: - Ó de casa. 

NEIDE [finge abrir a porta]: - Dona Estela a senhora por aqui na véspera de Natal?

ESTELA: - Eu e minha amiga Débora viemos trazer alguns presentinhos para a Francisca.

FRANCISCA: - Como vai dona Estela, que surpresa!

DONA ESTELA: - A Débora e eu viemos aqui em nome do nosso grupo lá do condomínio para...

EDILEINE [interrompe a fala porque entra correndo e falando bem entusiasmada]: - Francisca, tem uma caminhonete descarregan... o, dona Estela, oi, dona Débora.... [ao perceber a presença das duas fica sem graça e para de falar.]

DÉBORA: - Termine sua fala Edileine.

EDILEINE [volta a falar rapidamente e muito feliz]: - É que tem um homem com uma caminhonete aí na frente descarregando um berço enorme, um carrinho de nenê, banheira, cômoda, abajur e uma caixa bem grande cheia de roupas.

DÉBORA: - É o meu marido, Edileine! E ele veio nos ajudar.

FRANCISCA: - Mas ajudar no que, eu não estou entendendo.

ESTELA: - Era isso o eu estava dizendo antes da Edileine entrar. Nosso grupo se reuniu e cada um deu um pouco e assim pudemos comprar tudo o que seu bebê vai necessitar.

FRANCISCA: - Mas até o seu marido, dona Débora, aquele homem tão importante, está aqui na minha porta?

RODRIGO [marido da Débora, entra empurrando um carrinho de bebê]: - Com licença, onde deixo isso?

FRANCISCA: - Mas que belezura de carrinho. Eu não sei nem o que dizer. Passa a mão na barriga e fala: Olha só fio, o que esse pessoal trouxe pra você [apontando para o carrinho.]

RODRIGO: - E o berço está lá fora. Basta você dizer onde coloco que já trago para dentro. 

[Francisca ficou olhando os presentes como se não acreditasse no que via e ouvia.]

NEIDE: - Francisca, você não vai dizer nada não?  

FRANCISCA [emocionada]: - Meu filho está pulando tanto como se quisesse dizer muito obrigado a vocês. Muito, mas muito obrigada. 

PAULO [entra com um pão embrulhado na mão olhando surpreso para toda aquela gente]: - Aconteceu alguma coisa?

FRANCISCA [radiante]: - Sim, Paulo, aconteceu! Nós ganhamos todo o enxoval para o nosso filho. Vai ser um menino, Paulo.

PAULO: - O quê? É um menino, que beleza! 

EDILEINE: - Eu não disse que era menino?

RODRIGO [se aproxima de Paulo]: - Paulo, eu estou ampliando a minha rede de lojas pelo interior e estou precisando de um marceneiro.

PAULO: - Essa é minha profissão.

RODRIGO: - Eu sei e tenho boas referências de você, passe lá no escritório depois do Natal que a vaga é sua.

[Paulo põe a mão nos olhos e abaixa a cabeça.]

EDILEINE: - Paulo o que é que está acontecendo, afinal com você?

NARRADORA: - Paulo estava emocionado demais. Emocionado e arrependido. Ele se deu conta de que era véspera do Natal. O Menino Jesus nascerá e o filho dele também nascerá. É como se dentro dele nascesse uma criança também, em forma de alegria, de esperança e de gratidão. 

[Música para a entrada, pelo corredor central, de um casal de crianças trazendo um enorme coração escrito: Deus existe! Ao chegar no palco, para-se a música e elas falarão...]

CASAL DE CRIANÇAS: Deus existe! 

PAULO: - Sim, Deus existe! Como pude duvidar disso? 

FRANCISCA: - É Paulo, Deus existe no coração de todos: de homens e mulheres, de jovens e idosos, de adultos e crianças, de pobres e ricos [mostra a plateia.]

RODRIGO: - Existe no coração de todos aqueles que sabem partilhar e dar um pouco do que possuem para os mais necessitados.

PAULO [se dirigindo aos visitantes]: - Meus amigos, posso chamá-los assim, não é? Obrigado  por terem olhado para a nossa dificuldade e terem nos ajudado.

DÉBORA: - Nós é que agradecemos. É como se estivéssemos fazendo para o menino Jesus, assim seu bebê não terá que dormir numa manjedoura.

PAULO: -Também quero partilhar com vocês o que eu consegui para esse Natal: Este pão [estará sobre a mesa. Paulo levantará o pão e partirá ao meio]: - Quero que cada um coma um pedaço porque ele é um sinal de união e de partilha e de confiança em Deus que nunca abandona o seu povo... [o pão irá passando, inclusive para a plateia.]

EDILEINE: - Bem, agora é só aguardar para o meu sobrinho aqui querer sair do quentinho [apontando para a barriga de Francisca. Paulo estará abraçado com a esposa.]

NEIDE: - Calma Edileine, logo, logo chegará a hora dele nascer.

NARRADORA: - E assim termina mais um capítulo da novela...

TODOS: - Uma criança entre nós!

NARRADORA: - Só que esta história não termina aqui, ela se repete a cada dia, com nossas palavras e ações de alegria, esperança e gratidão [apontando para o coração]. Então... Abra a porta do seu coração...

TODOS: - E deixe Jesus entrar!

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