Um convite à compaixão
- pelegrincecilia
- 10 de mar. de 2022
- 8 min de leitura
Lc 15,11-32
Readaptação feita pela equipe Contadores de Histórias-Paróquia Cristo Rei,
do texto “Recontando a história”, escrita por Cecília Pellegrini, Vera Pastrello e Pe. Luiz Carlos Magalhães - adaptação da parábola O Filho Pródigo – Ano Santo da Misericórdia.
Cenário: No centro do palco colocar uma mesa e 4 cadeiras, com alguma coisa simbolizando que está posta para o café da manhã.
Personagens: Narradora, empregada Cida, pai, mãe e as filhas: Ana (mais velha) e Julia (mais nova).
NARRADORA [entra pelo lado esquerdo]: - A história de hoje nos mostra a vida de uma família com pai, mãe e duas filhas: Ana, a filha mais velha e a Júlia, a filha mais nova. Eles moravam em Campinas e frequentavam a Paróquia Cristo Rei [sai de cena pelo lado direito.]
[Cena 1 – Pedido de Julia]
[Música alegre – as entradas em cena são todas pelo lado esquerdo.]
[A empregada entra e vai arrumando a mesa. Depois a mãe entra, cumprimenta a Cida e senta-se na mesa. Entra o pai bocejando, dá bom dia para a Cida e senta-se também para o café.Logo em seguida entram as duas filhas].
ANA: - Bom dia pai, bom dia mãe, bom dia Cida.
MÃE: - Sente-se aí minha filha, eu fiz um bolo de fubá.
CIDA: - E está mais gostoso que o meu [Cida fica ajeitando a casa.]
JÚLIA [no celular, fica tirando selfie, digitando, etc]: - Poxa mãe, bolo de fubá? Eu gosto de bolo de chocolate, você sabe disso!
PAI: - Bom dia né filha.
MÃE: - Júlia, é que eu quero levar um pedaço para a vovó, você sabe que ela gosta.
JULIA: - Afe, ela tá doente, vai lá se importar com tipo de bolo?
ANA: - Por falar na vovó, ela disse que está com saudades sua Julia.
CIDA: - Ela completou 96 anos, né dona Julia?
JULIA: - Sei lá [demonstra esnobar a empregada]. Vocês sabem que eu não aguento a rabugice de velha da vó. Depois que ela ficou viúva então, haja paciência e eu não tenho.
PAI: - Filha, você precisa ser mais tolerante. Lembre-se de que estamos no Ano Santo da Misericórdia e precisamos exercitar a compaixão.
JULIA [fala com a plateia]: - Lá vem o bla, bla, bla de sempre. Já não chega ter feito a primeira eucaristia, a crisma e de ir à missa? Acho que tá bom demais…
MÃE: - Filha, o seu pai está querendo dizer que devemos aprender, neste Ano Santo, a deixar os nossos corações abertos aos sofrimentos dos outros, à miséria alheia e ir a seu socorro.
CIDA: - Nossa dona Lurdes agora sim entendi o que é ter misericórdia.
ANA: - Fui com o grupo de jovens, na palestra sobre o significado do Ano Santo e como receber indulgencias. O Padre Magalhães nos entregou a Bula, O rosto da misericórdia. Vejam! [mostra o documento e a Cida corre para folhear.]
MÃE: - Que legal filha, explica pra gente, né Julia?
JULIA [grita]: - Chega, chega, chega dessa Bula, desse Ano Santo. Eu não aguento mais essa vidinha aqui nessa cidadezinha provinciana. Nossa vida é muito parada. Enquanto eu era criança vai lá, mas agora... Agora que completei 18 anos quero morar fora do país, ter novas experiências, eu li que nos Estados Unidos os jovens são mega valorizados, Nova Iorque é repleta de oportunidades, aqui é muito parado, sem o verdadeiro sabor da vida.
PAI: - Mas filha, não lhe falta nada!
MÃE: - Quer vida melhor do que a vida que nós temos? Casa, comida farta, espiritualidade, agora que terminou o ensino médio você pode prestar vestibular na Universidade Federal...
PAI: - Pode trabalhar comigo e a Ana no escritório da nossa fábrica, que tal assumir a gerência de Recursos Humanos?
JULIA: - Trabalhar com família? Você sabe que não dá certo.
ANA: - Claro que dá, eu trabalho há 3 anos. A Júlia nunca está satisfeita com nada.
JÚLIA [olhando para a irmã]: - Fique fora dessa tá. [Vai até o pai] Pai, eu queria o dinheiro referente a minha parte na fábrica e vou seguir o meu caminho.
ANA: - Sua parte? Ir morar nos Estados Unidos? Uai você não conhece ninguém lá, onde vai morar? Onde irá trabalhar?
CIDA: - Julinha fica aqui “cum nóis.”
JULIA: - Me poupe Cida, só faltava essa, além de aguentar sermão da família vou ter que te ouvir, só porque você tá na família sei lá quanto tempo?
MÃE: - Mas minha filha, a vida lá fora é muito perigosa, cheia de armadilhas [começa a chorar.]
JULIA: - Eu sei mãe, mas quero provar um pouco deste perigo. Estou cheia desta monotonia, dessa casa, das mesmas pessoas, comer essa comidinha, dormir cedo, estudar, ir pra Igreja, agora o pai fala em trabalhar na fábrica. Ah! Isso tudo é um atraso de vida, uma caretice!
[O pai fica cabisbaixo, a mãe chega perto dele, coloca a mão sobre o seu ombro. O pai olha para a mãe como se pedindo concordância. A Mãe faz sinal afirmativo com a cabeça.]
PAI [se levanta]: - Tá certo Júlia, hoje mesmo farei a sua vontade. Você receberá a sua parte e terá a chance de buscar algo melhor, que lhe satisfaça e a torne feliz.
JULIA: - Ah que legal! Cida faça minhas malas. [Cida sai pelo lado esquerdo e Julia se dirige ao pai]: - Obrigada pai, você verá como farei muita coisa ainda nesta vida. Essa grana vai render, serei famosa, estarei nas redes sociais, e serei rica, muito rica...
PAI: - Dinheiro não resolve tudo, minha filha, às vezes só atrapalha. Vá com Deus e não se esqueça de tudo o que aprendeu desde criança, em família.
MÃE [a abraça]: - Não se esqueça de rezar [despedida - lágrimas da mãe.]
[Cida já tinha entrado e entrega a mala à Julia.]
JULIA: - Que drama gente! Tchau. Fui! [sai pelo corredor central.]
[Música – os atores levam os itens que estavam sobre a mesa e estendem uma toalha com a bandeira dos USA e depois saem pelo lado esquerdo e a narradora entra pelo direito.]
[Cena 2: Julia nos USA.]
NARRADORA: - Os dias foram se passando, o pai envelhecendo de tristeza, a mãe chorando pelos cantos da casa, porém guardavam no coração a esperança de que um dia a filha iria voltar.
Sabem o que aconteceu com a Júlia nos Estados Unidos? Enquanto ela tinha dinheiro no bolso, estava rodeada de amigos. Gastava muito com roupas finas, sapatos, joias. E as festas! Vocês precisam ver quantas festas ela organizava. Estudar que é bom nada. Trabalhar? Que nada! Só que o dinheiro foi acabando, acabando e de repente... [A narradora permanece em cena, mas no canto esquerdo, estátua.]
[Música triste. Julia entra pelo corredor central, com a roupa em desalinho. pede esmola pra um, pra outro, até chegar no palco. Pode falar umas frases em inglês: give as alms, depois em português também.]
JULIA [sentada no chão, como pedinte]: - Estou com tanta fome e não tenho mais dinheiro e já não sei mais o que fazer. Todos meus amigos me abandonaram, agora que estou pobre nenhum deles quer me ajudar... [fica um pouco pensativa, olha para o alto emocionada] – Meu Deus, meus pais me avisaram tanto! Quem me dera poder comer um pedaço daquele bolo de fubá que eu criticava tanto... Lá em casa não falta alimento pra ninguém, a Cida e os empregados da fábrica trabalham tão felizes e satisfeitos e eu aqui, passando fome. Estou tão arrependida pelas coisas horríveis que fiz e falei. Como pude desprezar minha família, meus verdadeiros amigos! Quero voltar para casa. Mas como? Se não tenho dinheiro nem para comer quanto mais para uma passagem. O pior que nem um bom emprego estou conseguindo arrumar. [pausa]. Não importa, farei qualquer trabalho, pedirei esmola, e conseguirei voltar sim. Implorarei o perdão aos meus pais. Também vou pedir a meu pai um emprego, não no escritório da fábrica, comandando os empregados, mas sim como faxineira [sai pelo corredor central.]
NARRADORA [vai até meio do palco]: - E lá foi a Júlia, fez alguns trabalhos bem humildes, pediu esmola pelas ruas e juntou o suficiente para retornar à sua casa [sai pelo lado direito.]
[Cena 3 – Retorno de Julia]
MÚSICA [ao mesmo tempo pai entra pelo lado esquerdo e a Julia entra pelo corredor central.]
JULIA: - Pai! Pai...
PAI [fica emocionado]: - Julia, minha filha! [Os dois correm e ao se encontrarem se abraçam. Julia chora, ajoelha-se aos pés do pai e pede perdão.]
PAI [a levanta]: - Minha filha que bom que você voltou. Lurdes venha aqui ver quem voltou!
MÃE [entra pelo lado esquerdo. Fica emocionada e abraça a filha.]: - Minha filha, que saudades!
PAI: - Filha eu sempre soube que você voltaria. Lurdes peça à Cida para preparar um lanche para Julia.
MÃE: - Cida venha ver quem chegou.
CIDA [entra pelo lado esquerdo, enxugando as mãos no avental]: - Que bom “co cê ta aqui, fia”! Vou fazer uns bolinhos de chuva que “o ce” tanto gosta.
MÃE: - Vou trazer aquelas roupas lindas que compramos para ela.
PAI: - Isso Lurdes, faça isso! Cida, vá até a fábrica e conte para todos os empregados que a Júlia está aqui. Diga para todos pararem de trabalhar que hoje faremos um churrasco para comemorar. A Ana foi fazer uns pagamentos e logo estará de volta.
[Pai, mãe e Julia sairão pelo lado esquerdo e Cida sai apressada pelo lado direito.]
[Música alegre. Todos os personagens, inclusive a narradora entram pelo lado esquerdo trazendo comida, copos, etc. Fingem estarem comemorando já no churrasco. Todos felizes deverão ficar mais para o lado esquerdo.
Chega Ana pelo lado direito e pergunta para a Cida que está um pouco afastada do grupo. Abaixar a música.]
ANA: - Cida, o que está acontecendo na minha casa?
CIDA: - O fia, Sua irmã voltou e teu pai está fazendo esta festança. Veja quanta comida gostosa.
[A Ana fica chateada e vira-se de costas e fica de cabeça baixa, mais para o lado direito do palco. O pai vem até ela.]
PAI: - Minha filha, por que esta cara?
ANA: - Pai eu não estou entendendo o porquê dessa festa toda. Isso não está certo. A Julia nos abandonou, gastou todo o dinheiro e agora o senhor a recebe de novo em casa! Eu não aprovo isso!
PAI: - Mas minha filha, você deveria ficar contente porque sua irmã está viva e voltou para casa. Você sabe que ela me pediu um emprego na fábrica?
ANA [brava]: - Pai, mas isso não é justo!
PAI: - Mas é misericordioso Julia. A misericórdia ultrapassa a justiça, minha filha. Veja a misericórdia de Deus para conosco. Você acha que é por nossos méritos? [pausa e abraçando a filha] - Filha, Vamos seguir o exemplo de Deus que nos ama, tem compaixão por nós e nos perdoa sempre.
ANA: - Mas pai...
PAI: - Ana, você sabe que tudo o que é meu é seu. Mas eu amo a Julia tanto quanto amo você. Venha, vamos. Sua irmã nos espera.
ANA: - Não sei pai. Não sei se vou [congela a cena.]
NARRADORA: - Essa história, baseada na parábola do filho pródigo, é um convite para olharmos com olhar misericordioso do Pai, aqueles que erram. É uma oportunidade para refletirmos o quanto temos de Ana, de Júlia e do pai dentro de nós.
[Os atores que interpretam Julia, Ana, mãe, empregada e o pai se posicionam no centro do palco, um ao lado do outro.]
JULIA: - Júlia, aventureira, que reconhece o valor da família ao passar pela miséria. Ela nos faz pensar em nossos erros e na conversão a que somos chamados todos os dias.
ANA: - Ana, justa e que obedece esperando recompensa, Ela deseja um pai justo, mas não necessariamente um pai que perdoe. Ana nos faz refletir sobre nossa atitude de nos considerarmos justos e apontarmos os erros dos outros.
PAI: - O pai bondoso, amoroso e cheio de compaixão, que perdoa sem esperar nada em troca. Isso nos faz refletir como Deus, nosso pai, é grandioso em misericórdia. Ele nos convida, a estarmos com Ele para acolher todos os irmãos com misericórdia, compreensão, tolerância e amor.
NARRADORA: - A misericórdia...
TODOS: - é a força q tudo vence
NARRADORA: - A misericórdia...
TODOS: - enche o coração de amor
NARRADORA: - A misericórdia...
TODOS: - Consola com o perdão!




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