Pão puro
- pelegrincecilia
- 29 de jul. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 15 de out. de 2020
Mt 5,1-12a
Autoras: Cecília e Rafaella Pellegrini
Certo dia, na lanchonete da padaria da dona Maria, um Pão estava num cantinho quando um Sanduiche mega recheado chegou cantando, todo animado: - “Comer, comer, comer, comer. É o melhor para poder crescer...”
De repente, o Sanduiche viu algumas crianças sentadas numa das mesas da lanchonete e puxou papo: Olá criançada! Estão com fome? Querem um sanduíche?
A Alface que estava toda fresquinha dentro do Sanduba foi logo se oferecendo: - Eu sou muito nutritiva e não engordo, viu!?
O Sanduiche não deixou por menos e foi logo dizendo: - É claro que você é nutritiva lindinha. Nós formamos o sanduíche mais gostoso que existe.
O Pão levantou-se, todo feliz e tentou fazer amizade: - Quem quer Pão? Oi amigos, tudo bem?
Mas o Sanduba, todo metido fingiu que não via ninguém e cochichou para as crianças: - Vocês viram, esse Pão amanhecido querendo puxar papo? Vou fingir que não ouvi.
E virou-se de costas e começou a assobiar para disfarçar. O Pão foi bem perto e tocou no Sanduiche.
A Alface deu um grito: - Vai contaminar!
O Sanduiche deu um salto e ficou longe do Pão.
O Pão ficou triste, abaixou a cabeça e disse: - Tá, entendi tudo, vocês não gostam de fazer amigos, não é?
Ao longe, a Alface retrucou: - De amigos nós gostamos, só não queremos nos misturar com esse tipo de Pão.
Muito satisfeito com a resposta da amiga, o Sanduiche logo estabeleceu a regra para o Pão: - Falou e disse Alfacinha. Dá para você ficar no seu cantinho? Eu não quero ser visto com um Pão duro e feio feito você.
A rapper Maionese chegou cantando: - Sou amarelinha, bem pastosinha, deixo a comida, bem gostosinha...
O Sanduba ficou todo feliz ao vê-la: - Oi Maionese!
- E aí Sanduba, vai um temperinho saboroso? A amiga perguntou.
Mas a Alface foi logo respondendo: - Ah! Não, não, você vai me engordurar toda. Esse lanche é supernatural.
A Maionese não gostou: - Nossa, você não sabe apreciar as coisas boas da culinária.
O Sanduba informou: - Maionese, querida, será que você não percebe que somos super saborosos pelos nossos próprios ingredientes?
- Sei, você é o tipo de lanche que se acha o melhor, o mais saboroso do pedaço, é isso? Quis saber a amiga, que estava muito chateada.
Com um ar de superioridade, o Sanduiche começou a dar uma verdadeira aula: - Todo mundo aqui já sabe o quanto somos nutritivos. O melhor lanche é pouco querido. Tenho certeza de que as crianças querem sanduíche no café da manhã, sanduíche no almoço, sanduíche à tarde, sanduíche no jantar.
Ao ouvir tamanha afronta, o Pão tentou alertar as crianças: - Só que vocês, crianças, não podem ficar comendo só lanches, ouviram!? Precisam comer outras coisas também, como: arroz, feijão, salada...
O Sanduba deu um empurrão no Pão e esbravejou: - Sai prá lá, Pão velho amanhecido. Fica bem longe de mim. Ooooo Maionese veja ali, aquele Pão duro, aquele Pão velho. Ele sim precisa de ajuda.
Mas a Maionese deixou claro a sua opinião: - Euuuuuuuuu? Com aquele ali? Eu não vou me misturar. Pela cara parece até um Pão meio embolorado! Tô fora. Eu sou chique, meu bem.
Nisso entrou o Catchup correndo e foi logo anunciando: - Pães, torradas, biscoitos e até panetones, todos estão convidados para a festa do Arnô Escargô.
Todos ficaram radiantes: - Festa do Arnô Escargô? Viva!
A alegria foi tanta que os amigos se abraçaram e claro, o Pão veio se juntar.
Mas a Alface gritou: - Vai contaminaaaaaaarrrrrrr!
E o Sanduiche e a Maionese empurraram o Pão, dizendo: - Sai pra lá...
O Catchup foi socorrer o Pão: - Mas o que é isso? Não se trata um Pão assim.
O Sanduba repreendeu: - Qualé Catchup, bem se vê que você não é do tipo apimentado. Deixa esse amanhecido aí. Vamos falar da festa do Arnô Escargô. Oooooo Maionese, você conhece o Arnô?
A Maionese se empinou toda para responder: - Claro né, o grande chef de cuisine Arnô Escargô é meu amigo íntimo.
- Não diga! Exclamou o amigo.
E ela continuou a falar, quase não se cabendo dentro do seu orgulho: - Digo sim, Sanduba. Ele me usa o tempo todo: coloca Maionese nos pratos de entrada, nos pratos principais. É porque eu não deixo, senão ele colocaria Maionese até na sobremesa.
A Alface quis abaixar a esnobação: - Aí já é demais, né! Que mentiroooooosa.
Mas o Sanduiche tapou a boca da Alface, com a mão, pois achou que ela exagerou na fala...
O Catchup, com muito carinho explicou: - É verdade sim, o Arnô Escargô encontra mil qualidades em todos nós. Ele diz que todos nós somos dotados de muitos talentos. Mas Maionese, está me estranhando o fato da senhora ser tão amiga do grande Arnô e mesmo assim tratar o Pão de maneira tão discriminatória.
Ela se fez de desentendida: - Não estou entendendo aonde você quer chegar.
E o Catchup continuou: - O Arnô ensina a união, um ajudando o outro, repartindo... Todos vivendo em harmonia. Esta festa é para todos, incluindo o nosso amigo Pão.
E foi buscar o Pão e colocou-o perto de todos.
Mas o Sanduba, repelindo-o, falou: - O quê? Misturar sanduíches com simples pães sem recheio? Lá estarão sanduíches de peito de peru, de patê de salmão, de salame vindo da Itália, de ricota...
A Maionese contou: - Ouvi dizer que vem até tábua de frios da Sibéria.
O Catchup, como um verdadeiro professor explicou: - Isso mesmo. São pães e ingredientes vindos do mundo inteiro. Os croissants e baguetes da França, broas de Portugal, Pão de forma dos Estados Unidos, de batata da Alemanha...
- Todos chiquérrimos, querido. Têm também os doces, as tortas, os mousses... Todos de origem fina. Complementou a Maionese, demonstrando que também sabia das coisas.
O Catchup, mostrando o Pão, falou: - E o nosso amigo aqui irá também.
Mas o Sanduba, a Alface e a Maionese começaram a brigar, repelindo o Pão: - Esse Pão duro, amanhecido, velho, embolorado... nem pensar.
Com muita calma e carinho, o Pão perguntou: - Por que não podemos viver todos juntos, em harmonia? Eu gosto de vocês.
Mas os dois continuaram repelindo o pobre Pão: - Que audácia!
Vendo a cena, o Catchup abraçou o Pão e explicou: - Pois é exatamente isso que o Arnô Escargô quer. Ele quer todos os pães, bolos, tortas bem juntinhos em sua festa. Ele sempre propõe uma divisão de ingredientes mais justa.
O Pão ficou muito feliz ao saber da notícia: - Vai haver divisão de ingredientes também?
- Claro meu amigo! Respondeu o Catchup.
O Pão já ficou sonhando com um futuro melhor: - Uma esquentadinha no micro-ondas e uma mortadela como recheio e ficarei novo novamente.
Ouviu-se uma gargalhada do Sanduba, da Alface e da Maionese e eles começaram a brigar novamente, mas o Pão manteve-se calmo: - Uma esquentadinha, uma mortadela. Essa é demais! Se enxerga Pão velho, embolorado!
O Catchup interviu: - Parem com isso. Me diga, Sanduiche, qual a sua origem?
- Eu sou um Pão Francês. Respondeu prontamente e com todo orgulho.
- E você Pão?
- Eu sou um Pão Francês. Respondeu humildemente o Pão.
Os três: Sanduiche, Alface e a Maionese ficaram admirados e surpresos: - O quê?
E o Catchup fez mais uma pergunta: - Sanduiche e Pão, me respondam ao mesmo tempo. Quantos gramas vocês têm?
- 50 gramas. Responderam em uníssono.
A Maionese e a Alface estavam chocadas: - Não é possível!
O Catchup continuou sua fala: - A única coisa que os diferencia é que no sanduíche há ingredientes de recheio.
A amiga Maionese foi até o Sanduiche e confidenciou: - Você é da família dele, San. Vocês são iguais!
O Sanduba observou bem o Pão, o mediu de cima até embaixo: - Nossa, somos bem parecidos mesmo. O que você acha disso Alface?
A Alface concluiu: - Até que olhando assim, de pertinho, ele é bem simpático.
Depois de muito pensar e refletir sobre tudo o que ouviu, o Sanduiche revelou: - Às vezes eu me esqueço que nasci também um pão puro, pra virar Sanduiche foi só com o tempo. Primeiro veio um molhinho aqui, depois um presuntinho ali, um pouco de tomate e acabei virando este sanduichão.
O Catchup complementou: - É. Não podemos nos esquecer que cada um tem o seu valor, suas qualidades e se juntarmos com as dos outros, aí tudo fica mais gostoso.
O Pão também fez uma revelação: - Minha missão é saciar a fome dos humanos. Eu sou muito feliz!
O Catchup respondeu: - A sua felicidade consiste em fazer sempre o bem! Você não é de brigar, você é justo, ajuda a todos. Você é um Pão puro de coração!
E o Pão contou: - Aprendi a ser assim ouvindo tudo o que o nosso Grande Chefe de Cozinha, Arnô Escargô, sempre ensinou.
- Realmente, as palavras dele são o anúncio da Felicidade. Se queres ser feliz, ouça o que o Arnô nos diz! Bradou o Catchup.
A Alface, o Sanduiche e a Maionese disseram: - Eu quero ser feliz, eu quero ser feliz!
E o Catchup ensinou o caminho a seguir: - Então, vamos todos juntos ouvir e praticar o que o Arnô Escargô tem a nos ensinar. Porque será grande a nossa recompensa.
Com muita alegria todos gritaram: - Ser feliz é o que a gente sempre quis!
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