Fraternidade e Amazônia
- pelegrincecilia
- 24 de jul. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 19 de mai. de 2022
Campanha da Fraternidade 2007
Autora: Cecília Pellegrini
A historinha de hoje se passa na floresta que fica ao norte do Brasil.
Certo dia o rio estava chorando baixinho quando a arara chegou após um longo voo e disse: - Nossa, que sede, que sede, que sede. Antes havia tantos rios aqui na Floresta Amazônica, mas agora eu voo, voo, voo e está cada vez mais difícil encontrar água fresca.
De repente, ela sentiu um cheiro forte e desagradável: - Eca, que cheiro horrível é esse?
Ela começou então a tentar descobrir de que lado vinha o mau cheiro e olhou para uma palmeira de babaçu, que falou meio irritada: - Arara, nem vem que não fui eu... mas eu sei quem pode ter emitido esse cheiro. Preste atenção na minha teoria: As árvores da floresta só estão servindo para enriquecer os donos das madeireiras e tudo está sendo desmatado para ser transformado em carvão vegetal.
- Não diga! Exclamou a ave.
E a palmeira continuou: - E digo mais, Arara, os homens devoram como cupins insaciáveis a maior e a mais rica floresta tropical do planeta. Você sabia que o sofisticado perfume chanel nº 5 tem em sua fórmula o Pau-Rosa da Amazônia?
- Não diga! Disse a arara quase tendo um treco de tanta indignação.
E o Babaçu continuou: - Essa árvore está ameaçada de extinção, por isso é que eu acho que foram essas árvores aí, oh...
A palmeira tentou colocar a culpa em várias outras árvores que margeavam o rio.
Acreditando, a arara chamou a atenção de todos: - Que coisa feia... Foi você, pau amarelo, que soltou esse pum? Você sucupira? Então, foi você mogno? Você cedro? Ahhhh, já sei... foram vocês, seus açaizeiros. Deram um pum coletivo?
O rio chorou alto a ponto de ser ouvido por quem estivesse à quilômetros de distância.
O Babaçu e a arara apontaram o rio e cantaram: - Foi ele, foi ele, foi ele...
A ave foi a primeira a conversar com ele: - Desculpe amigo. Eu sei que você é um grande rio, tem um nome imponente: Amazonas! Formado pelos rios Solimões e Negro, mas esse pum que você está soltando nem é mais cheiro é fedor mesmo!
E soluçando ele concordou: - Esse cheiro insuportável significa que despejaram mais sujeira, mais resíduo químico em mim. É o mercúrio dos garimpos, o lixo de produtos industrializados que a população, principalmente a população ribeirinha, está consumindo. Eu estou morrendo!!!
E chorando ainda mais alto, o rio terminou o seu desabafo: - Eu estou sendo consumido, estou poluído, destruído!
E ficou tão agitado se movimentando, que a arara teve que intervir: - Não fique assim. Quanto mais você se movimenta, mais sujeira aparece. Quanto mais mexe, mais fede, entende?
Foi então que o rio chorou desesperadamente e o babaçu se compadeceu: - Vai com calma, Arara. Coitadinho do rio Amazonas.
A ave voltou a falar do seu problema: - Ai que sede... Ai que sede...
Ela voou de um lado para o outro e nada encontrou: - Já vi que por aqui não tem água fresquinha e limpa. Com licença, linda palmeira de Babaçu, mas subirei numa das suas enormes folhas para ver se há outro rio aqui por perto. Nossa, dona Palmeira Babaçu, mas você está sujinha, hein?
Foi a deixa para o rio mostrar que a poluição atinge a todos: - Viu, viu? Ficou zombando de mim e estás tão suja quanto eu.
A palmeira tossiu várias vezes e depois concordou: - Estou mesmo. Ainda bem que estou conseguindo filtrar um pouco a sujeira e não tenho cheiro ruim, mas não sei não... isso tudo é pura poluição! Sabiam que está difícil até para eu respirar?
Muito triste, o rio levantou um peixe morto e disse: - Por falar em dificuldade em respirar, vejam só o que aconteceu com mais uma centena de peixes que moravam neste rio.
Todos olharam compadecidos e o rio continuou: - Esse peixe é um pirarucu recém-nascido. Ele, quando adulto, poderia chegar a 2 metros de comprimento e pesaria uns 100 kg.
- Mais vida que se vai! Todos exclamaram.
Uma indígena entrou correndo, gritando: - Socorro, socorro!
- O que aconteceu? Perguntaram desesperados com a cena.
A arara, como sempre, foi a primeira a perguntar: - Caianã, o que se passa, por que essa tristeza toda?
E ela respondeu: - Mais uma invasão nas terras do meu povo. Acreditam que agora instalaram uma mineradora perto da nossa aldeia? As tribos Apurinã, Macuxi, Parintintin e tantas outras já foram vítimas dessa ganância do homem branco que vem de todas as partes do mundo para levar as riquezas dessas terras.
Eles responderam afirmativamente: - É... estamos sabendo.
A indígena falou: - Nós somos os filhos e filhas da Amazônia.
O rio, sempre muito inteligente, completou: - Não só os 270 mil indígenas, mas os afro-descendentes em suas 97 comunidades quilombolas, os nordestinos que migraram para trabalhar nos seringais, os colonos, os ribeirinhos, os caboclos...
Todos concordaram: - Isso mesmo!
Caianã contou algo revelador: - O pior de tudo é que a maioria das pessoas pensa que os povos da Amazônia são selvagens, que vivem no atraso e ignorância. Até mesmo os brasileiros não conhecem os povos que vivem aqui na Amazônia. Mas, deixa pra lá, já estou acostumada com isso.
A arara não conseguia ficar ali, imóvel, diante de tanta tragédia: - Que deixa pra lá, que nada. Estou vendo que este patrimônio natural, a Amazônia, está com os dias contados. São os filhos e filhas da Amazônia que são os guardiões desse patrimônio da humanidade: povos que resistiram e resistem bravamente nesta luta desigual e desumana.
Todos bateram palmas: - Muito bem!
O rio fez um questionamento: - Quando será que o homem perceberá que ele, destruindo a natureza estará destruindo ele mesmo?
Quando todos achavam que já tinham ouvido tudo, Caianã veio com uma revelação ainda mais trágica: - Aqui, os indígenas sempre souberam utilizar os recursos naturais só para sobreviverem, mas agora, depois que a modernidade chegou junto com homens que queriam só extrair, começaram a usar os serviços dos indígenas e hoje, o meu povo também quer ter dinheiro para comprar as coisas do homem branco e está ajudando a destruir a natureza.
E todos ficaram estarrecidos: - Ah? Não diga!
A arara pediu: - Parem, parem, parem de falatório. Chegou a hora de agir!
Mas a indígena questionou: - Pera lá, mas o que podemos fazer? Somos apenas quatro!
E a ave deu a solução: - Somos poucos agora, mas vamos divulgar, orientar, pedir ajuda!
Caianã concordou: - É isso aí! Vamos agir! Errar é humano, mas persistir no erro é burrice!!! A história é construída por nós, seres humanos e cabe a nós mesmos nos unir para transformarmos coisas ruins em coisas boas e mudar essa situação.
E ela quer saber de você, que está lendo esta historinha: - Você quer ajudar?
Então, fazemos um convite para que cada um conheça, aprecie e respeite a vida que a Amazônia guarda: seu povo, sua biodiversidade, sua beleza. É preciso conhecer para proteger.
Amazônia! Missão nesse chão!




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