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De SoliTária a SoliDária!

Atualizado: 14 de out. de 2020

Mt 10,37-42

Autora: Cecília Pellegrini


A fazenda da Vaca Pintada estava toda enfeitada para uma linda Festa Junina, porém a egoísta nunca deixou nenhum animal de verdade abrir a porteira. Para diminuir a solidão ela colocou vários bichinhos de pelúcia vestidos a caráter.

E depois de colocar mais um delicioso prato de comida na mesa farta ela começou a falar com seus amigos imaginários: - Oi compadre coelho, que belezura tá a minha festa, não é?

Ela parou e esperou, mas nada ouviu de resposta e foi falar com outro bicho: - Comadre Ovelha, já comeu dos meus quitutes?

Ela parou, esperou e como a resposta não veio ela falou zangada: - Não responde, a sem educação. Vem na minha fazenda, come da minha comida e não responde. Que desaforo. Mas deixa pra lá, hoje é dia de festa, de animação e eu não vou me importar com amigos da onça, que parecem que não tem língua. O gato comeu a língua de vocês, foi?

- Falando em gato que comeu a língua, eu vou é comer, pois estou faminta. Ela foi comendo e falando, num triste solilóquio: - Hum, tá bom por demais! Mas, Pintada, você é mesmo uma vaca prestimosa, nasceu com tantos dons, mas tantos dons. Você sabe fazer de tudo, além do que, tem tanto leite, mas tanto leite... Obrigada, vaca amiga, pena que seu leite se estraga todo, não é mesmo? Não tem ninguém para beber. Hã?! Que loucura!!! Estou a cada dia falando mais comigo mesma.

E ficou de costas para os porcos, cantarolando.

Pançolina falou alto: - Tarde, vaca Pintada.

Mas a Vaca cantou ainda mais alto.

Então, a Porca resolveu abrir a porteira, foi até a Vaca e bateu no ombro dela.

Pintada ficou muito brava: - Mas que negócio é esse de entrar na festa dos outros e ir batendo no meu ombro, como se fosse uma amiga íntima?

Humildemente, Pançolina explicou: - Dona vaca Pintada, boa tarde! Só não somos amigas porque a senhora sempre me rejeitou, nunca respondeu aos meus cumprimentos, sempre me olhou de cima para baixo.

E a Vaca justificou: - Lógico que te olho de cima pra baixo: eu sou uma vaca, alta, imponente e você uma porca, pequena e... sem graça.

Os porquinhos concluíram: - Mas somos bichinhos também!

E a mãe concordou: - Sim, meus filhotinhos tem razão: uns podem ser grandes, outros pequenos, mas todos são bichinhos, como a senhora.

A Vaca, então, mostrou todos os bichos de sua fazenda: - Eu gosto dos bichinhos! Vejam só quantos vivem aqui comigo: tem onça, cachorro, leão, marreco, periquito, papagaio...

A Porca mostrou a diferença: - Sim, mas são de pelúcia, brinquedos! Não falam com a senhora.

- Isso é verdade e estou vendo agora que é tão gostoso falar e ouvir, ouvir e falar. Falou a Pintada.

Pançolina explicou: - Isso se chama diálogo! Os amigos conversam, ajudam uns aos outros...

E os filhos pegam a vaca e dançam com ela: - Dançam juntos...

A Vaca feliz: - Que gostoso!

E depois de muito dançar com os filhotes, ela fez um convite: - Fiz umas comidinhas deliciosas, vocês querem comer?

Os porcos responderam sim, e começaram a comer as delícias naquela mesa farta.

Um Burro, muito velho e cansado, todo esfarrapado, sempre tossindo, vendo a porteira aberta foi entrando.

A Vaca começou a ter um ataque de medo, pensando ser um ladrão: - Socorro, socorro, ladrão, ladrão!!

- Ladrão, eu? Exclamou, o pobre Burro.

Pançolina foi logo acalmar a Vaca: - Calma Pintada, esse é o Genaro.

E o Burro explicou: - Sim, sim. Sou Genaro. Meu dono me abandonou porque estou assim, velho, cansado e acabado.

A família de porcos foi abraçá-lo: - Seu Genaro!

E o Burro, agradecido, cumprimentou-os: - Oi Pançolina, oi porquinhos.

Dona Vaca chama a Porca: - Pançolina, venha cá. Esse burro está fedendo, com uma roupa toda suja, rasgada. Parece mais um cachorro sarnento. Você, que é uma porquinha cheirosa, até pode ficar, mas esse aí... Poupe-me, né!

E Pançolina explicou: - Mas dona Pintada, o burro Genaro anda por aí, sem casa, sem comida. Vive da caridade dos bichos. Só não morreu ainda porque tem à nós. Mas se os donos das fazendas nos virem, nós os sadios e produtivos, com um animal velho e doente, eles expulsam o pobre Genaro a pauladas.

- A pauladas? Exclamou a Vaca.

E o Burro confirmou: - Sim, veja as marcas, as cicatrizes.

E mostrou as inúmeras cicatrizes que havia pelo corpo.

A Vaca ficou indignada:- Vixi Maria! Que malvadeza! Detesto quem maltrata os animais.

Os Porquinhos, penalizados, correram abraçá-lo.

E o Genaro contou: - Só não morri ainda porque tenho amigos como a dona Pançolina e os filhinhos dela.

- Mas, infelizmente nosso dono não deixa você morar lá. Se permitisse, você teria uma velhice justa, com casa, comida e carinho. Você já fez tanto meu amigo, merecia uma vida melhor. Disse Pançolina.

Pintada teve uma ótima ideia: - Pois eu acho que posso resolver esse problema. O meu dono já se foi e me deixou toda essa fazenda. Eu posso repartir tudo isso com Genaro. E a Pançolina com os filhinhos poderão estar aqui sempre que quiserem e, assim, me ajudarão a cuidar do senhor.

Todos, muito animados. gritaram: - Viva!

Dona Vaca, então, fez um pedido: - Porquinhos, levem o seu Genaro ali atrás e o ajude a tomar um banho. Lá tem roupas limpas e cheirosas que eu mesma fiz, lavei e passei.

O Burro e os dois porquinhos foram para um lindo estábulo, onde encontrou água, sabão, roupas limpas e cheirosas: uma camisa xadrez, gravata, calça jeans e um par de botas brilhosas.

Enquanto o Burro se banhava, a conversa no arraiá continuou: - Dona Pintada, a sua solidariedade e caridade, ou seja, o fato da senhora ajudar o seu Genaro tornará mais leve a cruz que esse pobre e doente burro carrega.

A Pintada respondeu: - Tenho que confessar, Pançolina, eu perdi muito tempo sendo egoísta e sozinha. Você me mostrou o verdadeiro sentido da vida. Obrigada.

Pançolina também agradeceu: - Eu é que agradeço, Pintada. Tenho certeza de que você será cada vez mais generosa, pois você tem muito... tanto em bens materiais quanto em dons pessoais.

Chegam o Burro e os Porquinhos e a Vaca fica encantada: - Nossa, que mudança exterior seu Genaro! E eu tive uma grande mudança interior, porque descobri o quanto recebi nessa vida e pretendo repartir e ajudar a todos que precisarem de mim.

Todos, muito felizes e contentes, gritaram: - Viva!

Genaro agradeceu: - Obrigado por tudo, dona Pintada. Acredita que estou me sentido bem melhor? Com mais saúde e cheio de vigor?

A Vaca também expôs seu sentimento: - Eu estou sentindo uma alegria enorme, agora tenho amigos em carne e osso.

Pançolina concluiu: - De soliTária a senhora passou a ser soliDária.

- Basta trocar uma única letra e quanta diferença... Disse Genaro.

E a Vaca prometeu: - Solitária nunca mais. Daqui pra frente serei solidária!

E assim, a festa junina no arraial durou muitos dias e a Vaca e o Burro viveram felizes para sempre e a porteira da fazenda nunca mais ficou fechada.

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