Corrigir no Amor

Mt 18,15-20

Autora: Cecília e Rafaella Pellegrini

Cenário: Um jardim e no chão alguns baldes pequenos e um recipiente maior para armazenar água e outro recipiente escondido, que receberá a água que será roubada do recipiente maior.

Personagens: flores adultas (Florinda e Florentina), Flores-crianças (Flora e Florbela) e um Jardineiro.

FLORINDA: [entra com um chocalho (indígena-som de chuva) na mão, sempre balançando]: - Vamos chocalhozinho, vamos. Faça chover, faça chover.

FLORA e FLORBELA [entram em cena, com leques, abanando-se]: - Que calor! Que calor!

FLORINDA: - Por todos os ramalhetes do universo, com essa secura toda, meu caule está ficando fraquinho. O que vamos fazer?

FLORA E FLORBELA: - Estamos com sede...

FLORINDA: - Calma, florzinhas, nós vamos encontrar uma solução [balança o chocalho e arrisca uns passos indígenas]. - Será que a dança da chuva resolve?

FLORA e FLORBELA: - Que calor, que sede.

FLORINDA: - Não adianta ficarmos aqui reclamando, vou até o rio e pegarei o máximo de água para estocarmos.

FLORENTINA [entra em cena cantando, com um ventiladorzinho ligado]: -Florentina, Florentina, la, la, la, lu, lu, lu. [Para de cantar quando vê as flores] Nossa que pétalas “desmilinguidas” são essas? Vai um ventinho aí?

TODAS: - Sim!

FLORENTINA: - Mas não vou dar porque o vento mal dá para o meu “corpitcho”. Mas, o que está acontecendo?

TODAS: - Estamos com sede!

FLORENTINA: - Nossa, eu também [aperta o ventilador e sai água].

FLORINDA: - Divida a água com as florzinhas, por favor.

FLORENTINA: - Que peninha que tem pouco, não vai dar para repartir.

FLORINDA: - Preciso buscar água no rio, imediatamente. Vamos comigo Florentina?

FLORENTINA: - Não vai dar porque o rio é longe e estou meio indisposta.

FLORINDA: - Eu vou, então [pega dois baldinhos e sai apressada].

FLORENTINA: - Até parece que eu vou andar nesse sol quente. Pode me desidratar. Pétala ressecada é horrível!

FLORINDA [entra correndo]: - Vejam irmãzinhas, eu trouxe água. Bebam! Vou buscar mais [sai levando mais baldes].

FLORENTINA [senta]: - Ui, ui que canseira! Oh suas danadinhas [falando com as florezinhas], vocês já beberam água, agora fechem os olhos e tirem uma soneca.

FLORA: - Mas não estou com sono.

FLORENTINA [brava]: - Eu não estou perguntando se vocês querem dormir, eu estou man-dan-do. Fechem os olhos agora e durmam... já! [as flores ficam com medo e obedecem].

FLORENTINA: - A Florinda é boboca mesmo. Enquanto ela trabalha eu fico aqui na sombra! Vou pegar uma parte dessa água para mim e a noite, quando todos estiverem dormindo levarei para a minha casa. [pega água do recipiente maior e coloca em outro escondido. Começa a cantar e dançar baixinho para as florzinhas não acordarem].

[A Florinda chega com mais baldes cheios, coloca no recipiente maior e sai].

[Florentina pega água do recipiente maior e coloca novamente na vasilha dela que sempre estará escondida. Florbela vê a cena]

FLORBELA: - Que coisa feia!

FLORA [ABRE OS OLHOS]: - O que foi?

FLORENTINA [brava]: - Não foi nada.

FLORBELA: - Venha cá Florentina [leva-a para um canto]. Não é justo ficar roubando a água.

FLORENTINA: - Olha aqui, a vida é minha e eu faço o que eu quero.

FLORINDA [entra com mais baldes cheios]: - Ufa, que cansaço, mas valeu a pena. Vejam quanta água. Nossa [olha dentro do recipiente maior], mas parecia que tinha bastante...

FLORENTINA: - Foram essas florzinhas que tomaram tudo, aliás, já sei o que vou fazer. [Ela acusa as flores-crianças e sai de cena apressadamente]

FLORBELA: - Florinda, eu queria muito que você me ajudasse a falar com a Florentina.

FLORINDA: - Sobre o quê?

FLORBELA: - Veja só [mostra o recipiente escondido], ela está pegando a água que você traz e pretende levar escondido para a casa dela.

FLORINDA: - Então não foram vocês que tomaram a água? Precisamos falar com ela!

FLORENTINA [entra com 2 chupetas na mão]: - Pronto, pronto, resolvido. Vou colocar a chupeta na boca dessas florralhas, quero dizer pirralhas e aí elas vão parar de beber tanta água.

FLORINDA: - Florentina, preciso falar com você. [Flora e Florbela se aproximam].

FLORENTINA: - E tem plateia é?

FLORINDA: - Sim, porque quero que elas sejam testemunhas do que vou te dizer.

FLORBELA: - Eu contei para a Florinda que você anda pegando água escondida.

FLORENTINA: - Sua fofoqueira, dedo-duro.

FLORBELA: - Eu bem que tentei falar sozinha com você, mas você não quis me ouvir.

FLORINDA: - Você acha justo não trabalhar e se aproveitar da nossa boa-fé... ficar pegando água na calada da noite?

FLORENTINA: - Fazer o quê, se eu sou mais inteligente que você? O mundo é dos espertos. E quer saber de uma coisa? Fiquem aí, suas bobocas [pega o recipiente escondido], vou ao canteiro das margaridas pegar mais água pra mim [sai de cena]

FLORA: - Não é justo, ela vai enganar outras flores...

FLORINDA: - Precisamos falar com o Jardineiro.

TODAS [chamam]: - Jardineiro... Jardineiro...

JARDINEIRO: - Aqui estou! Precisam de algo, queridas flores?

FLORINDA: - Jardineiro, a Florentina não quer saber de trabalhar, anda enganando as flores e pega água que conseguimos a custas de muito esforço.

JARDINEIRO: - Vocês já a chamaram para conversar?

TODAS: - Já!

JARDINEIRO: - E mesmo assim ela não parou de agir errado?

TODAS: - Não!

JARDINEIRO: - Então, vamos convocar todos os moradores do jardim. [Finge estar chamando outras flores, olhando para as crianças sentadas na plateia: alecrim, rosas, cravos, tulipas, jasmins, orquídeas, girassóis, venham, venham todos para o jardim principal, pois precisamos conversar. Depois chama alto]: - Florentina!

FLORENTINA [entra cantando: Florentina, Florentina, lá, lá, lá, lá]: - É duro ser importante, né. O que vocês querem com essa reunião toda?

JARDINEIRO: - Parece que você anda agindo errado com as flores do jardim...

FLORENTINA: - Mas como tem linguaruda aqui, né!

FLORBELA: - Eu tentei falar com você em particular, lembra?

FLORINDA: - Depois falamos as quatro, lembra?

JARDINEIRO: - Elas tentaram te corrigir, foram amigas, mas como de nada adiantou estamos todos reunidos, para ver se a comunidade consegue fazer você parar de enganar, roubar... Você é uma flor inteligente e queremos que você use isso para o bem.

FLORA: - Você nos trata mal, mas tratamos você bem.

FLORBELA: - Você age errado e nós te corrigimos com carinho.

JARDINEIRO: - Será que não está na hora de você reconhecer seus erros, tentar ser melhor, para vivermos todos em paz?

FLORENTINA: - Vocês falam com tanta paciência comigo, me tratam com tanto carinho, me corrigem com tanto amor, que assim parece tão fácil mudar...

TODOS: - É simples, basta querer.

FLORENTINA: Eu quero! Crianças o que devo fazer para melhorar? [fala com a plateia e depois de 3 respostas continuará sua fala]. Entendi, vou devolver toda água que eu roubei, também vou ajudar a pegar água no rio. Florzinhas, fiquem com o meu ventilador, pois ele refresca pra caramba. Eu vou mudar, prometo!

TODOS: - Assim é que se fala! Tchau!