A bondade gera a felicidade

Mt 5,1-12a

Autora: Cecília Pellegrini

Cenário: Uma floresta.

Personagens: os cães, que são as irmãs Cachorrina e Cachorrilda, Lobo Mau, Elefante Elefantino e 3 animais figurantes.

[Música para a entrada da Cachorrina e Cachorrilda trazendo um tronco pesado. Cachorrina para de trabalhar e cai de tão cansada.

CACHORRILDA: - Não pare, irmãzinha!

CACHORRINA: - Não aguento mais...

CACHORRILDA: - Por favor, não pare, Cachorrina. O Lobo Mau nos machucará.

CACHORRINA: - Eu estou muito cansada, não agüento mais de tanto trabalhar.

CACHORRILDA: - Fique aqui sentadinha que eu darei um jeito [tenta levantar o tronco, mas não consegue].

LOBO [Entra em cena cantando. Ele estará bem vestido, com joias, um chicote, trazendo 3 animais presos em correntes]: - “Eu sou o Lobo Mau, Lobo Mau, Lobo Mau... eu pego os animais pra fazer mingau.”- Vamos, seus molengas!

[Quando vê a Cachorrina sentada fica furioso]: - Mas o que é isso? Hurrrrr [imita o som de lobo]. Posso saber o que essa insignificante está fazendo em pleno expediente?

CACHORRILDA: - Ela está muito fraca, não come há dias e estamos trabalhando dia e noite, noite e dia.

LOBO: - Levante-se rápido e volte já para o trabalho.

CACHORRILDA [irritada]: - Não é justo Lobo Mau, você quer mandar em tudo e em todos, fica escravizando todos os animais. Só porque é feroz pensa que pode tudo? Isso não é justo, não é justo.

CACHORRINA: - Você está louca Cachorrilda?

LOBO: - Hurrrrr [dá uma gargalhada] Essa é boa. Vejam só, uma cachorrinha querendo dar lição de moral para o Lobo Mau. Só mesmo nas historinhas desse lugar...Reduza-se à sua insignificância. Até um cabritinho é maior que você, sua coisinha... Vocês são ricas?

CACHORRAS: - Não.

LOBO: - São ferozes como eu? Hurrrrr [imita o som de lobo]

CACHORRAS: - Não.

LOBO: - São inteligentes como eu?

CACHORRAS: - Não.

LOBO: - Então está explicado: os poderosos mandam, os pobretões obedecem. Os fortes batem, os fracotes apanham. E é pra já [dá chicotadas] andem, levem esse tronco para os outros animais construírem o meu palacete assobradado. Vamos, vamos. Eu vou prender esses animais e ver se os cabritos encontraram o cipó e quando eu voltar eu quero esse tronco na construção, entenderam bem? Hurrrrr [imita o som de lobo].

CACHORRAS: - Sim, sim, Lobo Mau. [Lobo sai de cena com os 3 animais e as cachorras voltam a pegar o tronco]

ELEFANTE [entra em cena]: - Oi senhoritas, tudo bem? [Fala enquanto pega o tronco com uma pata só].

CACHORRINA: - Obrigada pela ajuda, mas não convém você nos ajudar.

ELEFANTE: - Em primeiro lugar muito prazer, sou Elefantino [as cachorras dizem seus nomes]. Em 2º lugar eu merecia um obrigado, não acham?

CACHORRILDA: - Desculpe-nos, Elefantino, mas somos escravas do Lobo Mau e se ele nos pega de conversê na hora do serviço... não quero nem pensar.

ELEFANTE: - O quê? A escravidão já acabou, sabiam? Quem esse Lobo pensa que é para tratar duas donzelas desse jeito?

LOBO [entra em cena]: - Esse Lobo não pensa que é, ele sempre foi... Mau, o Lobo Mau. Hurrrrr [imita som de lobo] Vai encarar?

ELEFANTE: - Como assim encarar? Não entendi.

LOBO: - A gordura atingiu o cérebro também? Eu sou feroz, mau, violento, mando no pedaço, nos bichos insignificantes dessa região.

CACHORRAS: - Ele é muito bravo!

ELEFANTE: - Pois se eu quisesse também poderia lutar com você.

LOBO: - Então vem, vem [mostra as garras].

ELEFANTE: - Calma, seu Lobo, eu não costumo resolver as coisas com violência.

LOBO: - Mas é um frouxo mesmo. Tá com medo?

ELEFANTE: - Não, nem um pouco seu Lobo Mau, eu estou com pena.

CACHORRINA [cochicha com Cachorrilda]: - Ora, ora esse Elefantino é uma galinha?

CACHORRILDA: - Claro que não!

CACHORRINA: - Ele disse que está com pena.

CACHORRILDA: - Com pena quer dizer que ele está com dó. Este Elefantino vai surpreender.

CACHORRINA: - Ele vai é levar um “supapo” do Lobo, isso sim.

LOBO: - Não estou gostando nada do rumo dessa prosa. Eu sou o mau da história e assim sempre será [mostra as garras]

ELEFANTE: - O que adianta só conseguir as coisas explorando, batendo, mentindo, enganando? Se você mudasse, poderia ter a ajuda de todos, teria amigos, participaria das rodas de conversas e das festas.

CACHORRINA: - E olha que antes de você chegar por aqui e tirar a nossa alegria, fazíamos cada festa...

CACHORRILDA: - Sempre conseguíamos tudo. Cada bicho tinha seu cantinho para descansar, as comidas eram fartas. Não existia bicho triste, com fome, sozinho. Tudo era dividido em partes iguais.

ELEFANTE: - Viu? Em vez de fazer parte dessa vida feliz você trouxe a violência, a maldade...

CACHORRILDA: - Seu Lobo, se você pesquisar verá que os cachorros e os lobos têm muita coisa em comum.

CACHORRINA [cochicha com a irmã]: - Fale por você, eu não sou feia assim, não.

CACHORRILDA: - Nós queremos apenas viver em paz, sem ter medo, sem brigas.

LOBO: - Mas aí eu não terei tudo o que tenho hoje!

ELEFANTE: - O que adianta ter tudo a custas do sofrimento do outro?

CACHORRAS: - E que sofrimento...

ELEFANTE: - Porque você não tenta ser um animal diferente? Já pensou em ter amigos? Pessoas para te ajudar se ficar doente? A recompensa pela bondade é imensa!

LOBO: - A recompensa pela bondade é maior que pela maldade?

CACHORRAS e ELEFANTE: - Mil vezes maior!

LOBO: - Mas então parece que ser bom é o caminho para o sucesso.

ELEFANTE: - E para a felicidade!

LOBO [vai saindo]: - É, vou pensar direitinho nisso tudo, quanta coisa num só dia... [para e fala]: - Vou agora mesmo soltar todos os animaizinhos que prendi. [anda mais um passo e para]: - Se eu me esforçar para ser bom, vocês perdoarão por todo mal que eu já fiz?

TODOS: - Mas é claro!

LOBO: - Estou até com vergonha em ter sido tão mau. Tchau!

CACHORRINA: - Ele saiu mansinho, mansinho. Ele quer mudar, vocês viram?

CACHORRILDA: - Mas não é que você, Elefantino, com esse jeitinho manso, justo, teve misericórdia do Lobo e promoveu a paz!?

ELEFANTE: - O mal perde a força quando encontra o bem e o nosso coração precisa perdoar e ajudar sempre. Lembrem-se: a bondade gera a felicidade.

TODOS: - Muuuuita felicidade! Tchau